O médico que um dia parecia ter todas as curas para os males da saúde pública agora sofre de uma doença antiga na política: a amnésia conveniente. Zé Fernandes (MDB), o vereador que vivia prescrevendo soluções milagrosas para a cidade, sumiu do consultório da crítica.
No governo passado, ele subia à tribuna com a autoridade do especialista, discursava com precisão cirúrgica e exigia cortes e remédios para o que considerava incompetência administrativa. Hoje, porém, com o prefeito que dizem ser seu melhor amigo, Márcio Corrêa (PL), o doutor parece ter esquecido o estetoscópio em casa. O microfone que antes servia para receitar cobranças virou enfeite.
O momento não é pequeno, uma grande crise silenciosa está em curso, e ontem, a pasta da saúde viveu mais um capítulo de turbulência, com a queda da agora, ex-secretária Eliane, que escancarou a gravidade dos sintomas do sistema. Em vez de cirurgia política, o que se vê é anestesia coletiva: O silêncio de quem poderia ofertar um opinar clínico, mas que prefere um aplauso protocolar.
Ironicamente, o vereador que tanto pregava soluções agora parece aplicar um tratamento experimental chamado conveniência. Quando era o adversário no comando, a receita vinha com bula completa; quando virou aliado do ocupante do Paço, a prescrição sumiu da gaveta. O eleitor tem o direito de saber, a vocação médica era de fato compromisso com a saúde pública, ou apenas retórica para ganhar flash (e votos, muitos votos)?
Se o paciente piora enquanto o especialista se cala, a única conclusão possível é óbvia: coragem seletiva não cura ninguém. Zé, saia do armário, doutor. A população quer saber se a sua medicina é para salvar vidas ou para proteger amizades políticas.



