Por: Daniane Marinho
Quando O Rappa entoou Ninguém Regula a América, a voz rouca que saiu dos amplificadores não era só música, era grito, era aviso, era profecia. Em cada verso, na batida pesada, no peso das guitarras, mora uma rebeldia que não envelhece. O Rappa, com sua poesia de trincheira, sempre soube traduzir as ruas em som, transformar desalento em hino, revolta em manifesto.
A canção é um lembrete feroz de que a América Latina não se dobra. Que não há nação de bandeira estrelada que dite nossos sonhos, sem que a gente lute. E se nos querem de joelhos, lembramos, também temos nossas armas, nossa voz, nossa arte, nossa gente.
Donald Trump, com sua retórica de muros, supremacia e tarifas abusivas, é só mais um capítulo na velha história dos desmandos que vêm do Norte. Seu tarifaço não é apenas uma agressão econômica, é uma afronta à ideia de respeito entre nações soberanas. Tentam sufocar nossa produção, estrangular nossas exportações, impor barreiras para garantir que sigamos dependentes e submissos. Mas o Brasil não aceita se ajoelhar diante de tarifas injustas, que beneficiam poucos e oprimem muitos.
Ninguém Regula a América é mais que um protesto, é um estandarte. É um aviso de que aqui, nesta parte do continente, existe quem cante, quem escreva, quem lute. O Rappa nos lembra que poesia pode ser barricada, e que a rebeldia pode ser tão necessária quanto o pão.
Que nos respeitem, então, como queremos ser respeitados. Que aprendam que não há tratado, tarifaço, acordo ou dívida que cale a nossa voz. Se eles insistirem em regular nossos sonhos, que saibam, ainda ecoa O Rappa, com seu batuque insurgente, dizendo que ninguém, ninguém regula a América, muito menos quem a vê de cima para baixo.
E se tentarem, que encontrem em nós, como encontrou O Rappa em sua música, a coragem de nunca curvar a cabeça.



