Durante a pandemia, quando o transporte coletivo de Anápolis vivia um de seus momentos mais críticos, a Urban, empresa responsável pelo serviço, alegava repetidamente que o sistema estava em colapso. Segundo a própria concessionária, o transporte estava “em falência”. Mas até hoje não se sabe ao certo se era verdade ou apenas parte de uma estratégia para pressionar o poder público. Afinal, “era impossível fazer uma auditoria, porque eles nunca fornecem os documentos necessários”, confidencia Fernando Cunha, ex-presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Transportes (CMTT).
A Urban foi instalada na cidade durante a gestão do ex-prefeito João Gomes, e, desde então, nunca conseguiu firmar uma relação de confiança com a população. Ainda hoje, é alvo constante de críticas e reclamações.
O que Fernando revelou agora, pela primeira vez, é que, em meio a essas constantes ameaças da Urban, que dizia não suportar mais manter o serviço e insinuava que paralisaria tudo, ele decidiu agir. Cansado de ser pressionado por uma empresa que nunca deu abertura para fiscalização real, ele tomou uma atitude firme. Quando ouviu mais uma vez que a Urban pretendia parar, respondeu alto e claro: poderia parar, sim, desde que avisasse com três dias de antecedência, porque ele já tinha cem ônibus prontos para entrar em operação na cidade. E mais, disse que gostaria de romper o contrato.
A reação foi imediata. A Urban recuou, mudou de assunto e, a partir daquele dia, nunca mais tocou no tema. Também não voltou à CMTT para fazer qualquer tipo de ameaça semelhante enquanto Fernando presidia o órgão.
O episódio, até então inédito, revela um dos raros momentos em que alguém no comando da mobilidade urbana da cidade enfrentou com firmeza uma das empresas que, há anos, atua sem conseguir criar qualquer conexão com a cidade. “Para fazer transporte público, não se pode ouvir político. O sistema deve atender o povo somente”, ressalta Fernando Cunha. Ele também aponta um problema estrutural que permanece até hoje: “A Urban até hoje não conseguiu criar uma ligação com o povo anapolino, uma empresa que veio de fora e nunca se identificou com a população que é extremamente bairrista.”
Passado o susto da pandemia e das ameaças da empresa, o transporte coletivo em Anápolis segue enfrentando sérios desafios. Mas a história que agora vem à tona lança luz sobre um ponto importante: falta coragem para enfrentar estruturas que há décadas prestam serviço ruim à população, como é o caso da própria Urban, e também da Saneago, para citar outra que coleciona reclamações.



