A reabertura da Marcha pra Jesus na cidade depois de oito anos trouxe o repertório esperado, coros, bandeiras, caminhões de som e selfies, mas também apresentou um detalhe curioso, político, e altamente fotografável, Ronaldo Caiado (União), Daniel Vilela (MDB), Gracinha Caiado (União) e Márcio Corrêa (PL) marcharam lado a lado, sorrindo para as lentes como quem pratica a liturgia das boas imagens.
Nenhuma liderança estadual do Partido Liberal apareceu.
Foi um desfile de autoridade com checklist de relações públicas, fotos combinadas, abraços protocolados, e muita pose institucional, sem espaço, ao que tudo indica, para a mobilização que em 2024 costumava transformar procissões em palanque. A fila dos barulhentos do PL, aqueles que entoavam o nome do “mito” e chamavam o povo para o “lado certo”, parece ter preferido bater ponto em outros compromissos, ou talvez simplesmente optar por assistir ao espetáculo das arquibancadas.
A ausência do bolsonarismo em peso deu ao evento uma cara diferente, mais contida, menos inflamável, e irônico o bastante para fazer qualquer jornalista lembrar que a fé também admite escala de prioridades. O que se viu foi uma marcha onde o protagonismo político se alinhou à máquina do governo estadual, ao aparato municipal, e ao atendimento ao público, em vez das tradicionais cataratas de bandeiras verde-amarelas e megafones vociferantes.

Caiado (União) ocupou o centro das atenções com aquela serenidade de quem já decorou poses para inauguração, Vilela (MDB) manteve a composta postura do vice pronto para a foto, Gracinha Caiado (União) fez o circuito das simpatias distribuindo acenos e apertos de mão, e Márcio Corrêa (PL) assumiu o papel de anfitrião, recebendo cumprimentos como se cada aperto de mão fosse carimbo de prestígio.
O contraste com a campanha do ano passado foi nítido, e não só por conta das ausências. Onde havia gritos de campanha, agora havia hinos, onde havia faixas de militância, agora havia faixas de igreja, e no meio dessa troca de figurino político, sobrou para o bolsonarismo o papel de espectador, observando a posse simbólica do espaço por lideranças locais e estaduais.
Para os observadores que gostam de ler entre as fileiras, a leitura é clara, pragmática e um pouco implacável, os que detêm mandato aproveitaram a vitrine, os que detêm militância agitaram menos bandeiras, e a Marcha pra Jesus acabou servindo de termômetro, não religioso, mas político, sobre quem está em campo e quem ficou de repouso tático.
Se a expectativa era ver o retumbante coro bolsonarista, ficou para próxima, se houver próxima. Enquanto isso, a cidade teve sua marcha, a política teve sua aparição pública, e a fé, no meio de tanto aceno, seguiu o seu caminho, menos barulhenta, talvez mais discreta, e com bem menos gritos por milagres políticos.



