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IR na disputa, drama nos bastidores

isenção do ir

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No primeiro de outubro de 2025, algo raro ocorreu no plenário da Câmara dos Deputados: 493 votos favoráveis e nenhum contrário ao texto-base que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais, em outras palavras, aprovação por unanimidade entre os presentes.
Para quem esperava um embate dramático, restou a cena com menos antagonismo e mais confirmação protocolar. O projeto agora segue para o Senado, onde poderá sofrer alterações, mas carrega consigo carga simbólica forte, a de uma convergência legislativa em torno de uma promessa de campanha de peso político.
O que há por trás da fachada de consenso
No futebol político, há quem faça gols e quem viva de tabelas. Neste jogo, a oposição tentou articular objeções e pautas regimentais, em particular a PEC da “blindagem” e outras manobras, mas não conseguiu transformar a discordância em bloqueio efetivo. O motivo implícito: quando a proposta tem um efeito fácil de entender, “menos imposto no bolso”, o custo político de dizer “não” se eleva, especialmente para parlamentares que dependem de popularidade local.
O discurso oposicionista de que “a isenção eleitoral agora cobre aumentos fiscais anteriores” reapareceu, mas como eco já meio previsível. No embate entre a narrativa longa, feita de argumentos, e o fato imediato, o alívio fiscal perceptível, a dinâmica favoreceu o segundo.
Impacto estimado da isenção do IR
Indicador Estimativa / número citado Fonte / observações críticas
-Número de beneficiados (faixa até R$ 5.000): mais de 26,6 milhões de contribuintes estimativa do governo para 2026 .
-Custo/falha de arrecadação (renúncia fiscal): cerca de R$ 25,8 bilhões estimativa governamental para a renúncia com a isenção até 5 mil .
-Percentual da renúncia em relação ao IR total arrecadado cerca de 10 % cálculo com base nos R$ 227 bilhões cobrados em IR atualmente
-Número de contribuintes de alta renda para compensar (tributação adicional): cerca de 140 mil pessoas faixa acima de R$ 600 mil anuais com alíquota mínima proposta de 10 %
-Estimativa alternativa (mais alta) do impacto R$ 35 a 40 bilhões estudos e projeções de mercado apontam variações maiores dependendo do desenho
Sobre os números:
-Os valores são aproximados e dependem da versão final do projeto e da sucessão de emendas, o texto já recebeu dezenas de sugestões de mudança.
-A compensação prevista recai sobre um grupo relativamente pequeno, cerca de 140 mil contribuintes, o que implica que, para tornar o projeto “neutro” do ponto de vista fiscal, será preciso ter boa adesão ou mecanismos de eficiência.
-Há dispersão entre as estimativas do governo e as projeções independentes, enquanto o governo fala em cerca de R$ 25 a R$ 26 bilhões de renúncia, analistas já levantam que o impacto pode superar os R$ 35 bilhões.
Mas calma…
1.Senado modifica compensação
Pode endurecer tributos adicionais sobre quem já paga pouco, ou redistribuir compensações para consumo e patrimônio, o que pode diluir o caráter focal da medida.
2.Desempenho prático versus expectativa pública
Parte dos beneficiados pode perceber que, por causa de deduções, rendimentos variáveis ou efeito de “escada” (quem ultrapassa levemente o limite), o alívio não será tão grande quanto o discurso sugeria.
3.Risco político para opositores locais
Parlamentares que resistirem à isenção podem pagar politicamente, especialmente em distritos onde o eleitor classifica a medida como “benefício direto”.
4.Tração para reforma tributária futura
Se a medida der certo, em adesão e efeito simbólico, poderá servir de antessala para outras mudanças no IR ou em impostos sobre consumo, um movimento estratégico de construção de confiança legislativa para reformas mais profundas.
No fim, o que temos é um paradoxo político interessante: uma proposição de alívio fiscal que gera consonância legislativa, mesmo em ambiente polarizado. A oposição, que tentou carregar a pauta pesada de crítica, viu-se obrigada a integrar-se ao coro, ou a sofrer penalidades eleitorais locais. O discurso “quem aumentou impostos quer agora enganar com isenção” pode ressoar para alguns, mas não foi suficiente para sustentar obstruções quando o momento de decisão chegou.
Essa dinâmica deixa uma lição clara para analistas: nas disputas de poder, nem sempre vence quem tem o melhor plano ou o discurso mais sofisticado, muitas vezes vence quem consegue transformar promessa em ação palpável no momento certo. E essa vitória discreta, quase logística, pode reverberar mais do que a peça teatral das grandes oposições.

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