Tarcísio de Freitas (Republicanos) já deixou claro, com a franqueza de quem prefere não queimar a única cartada segura que tem, que vai disputar a reeleição ao governo de São Paulo, portanto, não lhe compensa embarcar agora numa aventura presidencial sem unidade da direita.
A leitura é amargamente pragmática, e quase cinematográfica, Tarcísio calcula, com razão, que é muito mais fácil deixar Eduardo Bolsonaro (PL) queimar-se numa candidatura kamikaze em 2026, do que abandonar o governo para arriscar a carreira inteira num tiro no escuro. Se Tarcísio se reelege em São Paulo, em 2030 ele entra na disputa presidencial com uma plataforma muito mais robusta, com caixa, máquina e reputação fortalecida, enfrentando um cenário em que Lula (PT) possivelmente já não seja o mesmo fator eleitoral, e, acima de tudo, sem a sombra direta do mandato de Lula em 2026.
Para completar o quadro favorável a essa paciência calculada, Jair Bolsonaro (PL) já carrega agora um problema estrutural, a condenação e a inelegibilidade que empurram a família para uma sucessão incerta, e deixam Eduardo Bolsonaro (PL) com a opção de estampar na testa o rótulo de aventureiro, caso insista em se lançar agora sem condições reais de vitória.
Do lado lulista, o roteiro não poderia ser mais apetitoso, a presença estridente de Eduardo Bolsonaro (PL) em 2026 funciona como combustível para a polarização que historicamente beneficia Lula (PT), a polarização que transforma debates em trincheiras morais, mobiliza bases e amplia a frente anti-bolsonarista, exatamente aquilo que o PT soube costurar em 2022. Pesquisas recentes continuam mostrando Lula à frente em cenários de 2026, o que dá ao lulopetismo margem para explorar uma disputa de alta voltagem com confiança.
Há ainda um detalhe de cenário que explica o plano de Tarcísio, mesmo que seja frio e impiedoso, é preferível ver Eduardo bater cabeça agora, falhar estrondosamente, e assim abrir o caminho para 2030, quando Tarcísio, reeleito e fortalecido, poderia disputar contra um candidato de centro que o lulopetismo eventualmente ofereça, alguém como Geraldo Alckmin (PSB), figura que já foi vice e que representa o tipo de sucessor moderado que o lulopetismo poderia escolher para manter a aliança ampla. Que venha a disputa em 2030, então, com Lula fora do tabuleiro ou sem a mesma força pessoal, e com Tarcísio mais inteiro, é a esperança calculada.
Em suma, o raciocínio é impiedoso e elegante na sua simplicidade, Tarcísio protege seu capital político, Eduardo Bolsonaro (PL) tem pressa, talvez prefira o protagonismo a uma estratégia paciente, e Lula (PT) ri por antecipação, porque polarização bem alimentada tende a favorecê-lo. Se Eduardo se lançar agora, kamikaze, e perder, não só sacramenta o fim da escalada familiar ao Executivo, como ainda oferece ao lulopetismo um segundo ato de consagração, a vitória consecutiva sobre um Bolsonaro, que simbolicamente enterraria a saga política do clã.



