O prefeito Márcio Corrêa (PL) parece ter descoberto que a popularidade, quando se mantém alta, é um escudo poderoso. Mesmo atravessando a crise que sufoca Anápolis, com dificuldades para honrar compromissos básicos, como o pagamento de terceirizados e de organizações que administram a saúde do município, a imagem dele junto ao eleitorado continua robusta.
Amparado nesse cenário, o prefeito deixou de lado a necessidade de agradar veículos de imprensa locais. O que antes era parceria estratégica, quase simbiótica, virou um relacionamento distante. Um famoso portal da cidade, outrora aliado, já não ocupa mais o mesmo espaço. Na própria rádio vinculada ao grupo do prefeito, antigos companheiros de campanha perderam relevância. Aos poucos, esses interlocutores, que ajudaram a construir a narrativa política de Corrêa, deixaram de ser fiéis da balança em momentos decisivos.
O curioso é que a reação já começou a aparecer. Um jornalista que fazia parte da rádio voltou a escrever no portal e tem adotado um tom mais crítico, algo que antes seria impensável. Chegou-se até ao ponto de o prefeito ouvir de um jovem, em matéria publicada, que ele “só quer like”. Essa mudança é simbólica, mostra que a blindagem midiática, antes inquestionável, começa a se desgastar.
Corrêa, no entanto, aposta no caminho inverso. Prefere se apoiar em suas próprias redes sociais e na força direta da sua imagem. É como se dissesse: “Não preciso mais de mediadores, o público está comigo.”
Mas será que essa autossuficiência é sustentável? A comunicação política vive de ciclos, e a mesma imprensa que hoje é deixada de lado pode se tornar um fator de desgaste amanhã. Apostar apenas no carisma pessoal e no alcance digital é uma jogada ousada, e talvez arriscada. Afinal, a popularidade é volátil, e quando a maré vira, quem já não tem aliados, costuma afundar sozinho.



