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O ponto em comum entre o goleiro Cássio e eu

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Nos últimos dias, uma matéria publicada pelo UOL trouxe o desabafo do goleiro Cássio, hoje no Cruzeiro, sobre as dificuldades para matricular sua filha Maria Luiza, de sete anos, que é autista, em escolas de Belo Horizonte. Segundo ele, várias instituições rejeitaram a criança, situação que o deixou profundamente abalado.

Como pai de uma criança também autista, não pude deixar de me identificar com a dor e o constrangimento que ele expôs. A verdade é que essa não é uma situação isolada, é a realidade de milhares de famílias brasileiras.

Tenho um filho de 6 anos, diagnosticado com autismo leve, que ainda não desfraudou. Nossa busca por uma escola particular que o acolhesse foi marcada por barreiras disfarçadas de burocracia e por um preconceito silencioso que machuca tanto quanto uma recusa explícita.

Na primeira escola que visitamos, inventaram desculpas. Uma psicóloga que estaria de licença e que, quando retornasse, voltaria a conversar conosco. Essa conversa, claro, nunca aconteceu. Em outra, uma instituição renomada da cidade, ouvimos a sugestão de procurar outro lugar. “Infelizmente não temos a vaga”, disseram. Em muitas outras, nos deparamos com a mesma estratégia, impor dificuldades até nos obrigar a contratar um cuidador particular para acompanhar a criança, mesmo sendo obrigação da própria escola garantir apoio.

E o mais frustrante, não estamos falando de um caso severo. Meu filho tem autismo em grau leve. Mas a verdade é que o problema não está nele, e sim nas escolas, que não estão preparadas. A estrutura física é insegura, escadas expostas, corredores de circulação em andares altos e sem proteção adequada, espaços que oferecem riscos. Pior do que isso, são os profissionais que não querem receber crianças atípicas. O rosto, o olhar e a expressão corporal muitas vezes dizem mais do que as palavras.

O resultado é um sentimento de constrangimento constante, de sermos forçados a quase implorar por algo que já está garantido em lei, o direito à educação inclusiva.

E então me pergunto: se nós, que estamos dispostos a pagar por educação, enfrentamos esse muro de preconceito e despreparo, como no caso do próprio Cássio, o que acontece com as famílias que dependem exclusivamente da rede pública, estadual ou municipal ? Que chance essas crianças têm de serem verdadeiramente incluídas e respeitadas?

A inclusão não pode ser apenas um discurso bonito em campanhas publicitárias, precisa ser uma prática real, cotidiana, vivida dentro das salas de aula. Enquanto isso não acontecer, seguiremos repetindo histórias como a do Cássio, a minha e a de tantas outras famílias que continuam na luta para que seus filhos sejam vistos, respeitados e acolhidos.

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