O cerrado goiano, com suas estradas de terra e paisagens marcadas por poeira e devoção, é o cenário do documentário “Carreiros, candeeiros e seus carros de bois em romaria para Trindade”, produção do cineasta Pedro Diniz, que mergulha na cultura popular de Goiás ao acompanhar a jornada de fé dos carreiros rumo à Festa do Divino Pai Eterno.
A obra traz à tona uma tradição centenária, que ainda pulsa forte no interior goiano: a romaria em carros de bois, conduzidos por homens, mulheres e crianças que cruzam quilômetros de estrada para chegar à cidade de Trindade. O documentário vai além do registro visual e se propõe a contar uma história de fé, resistência e pertencimento.
Pedro Diniz passou cerca de uma semana acompanhando a comitiva dos carreiros, convivendo com os romeiros e compartilhando os desafios da viagem. A câmera registra o ranger das rodas de madeira, o brilho das lamparinas acesas ao entardecer e os rostos marcados pelo sol e pela emoção de quem carrega a fé no compasso lento dos bois.
“A experiência de acompanhá-los é única e mostra que temos tradições ainda muito vivas, sendo passadas de geração em geração, nos rincões do sertão cerratense de Goiás”, afirma o diretor.

Com produção da Altosplanos Produções e financiamento pela Lei Paulo Gustavo, operacionalizada pela Secretaria de Estado da Cultura de Goiás, o filme também documenta o cotidiano dos carreiros durante a viagem, os momentos de oração, os cantos, as refeições compartilhadas e o simbolismo de cada gesto e cada trecho percorrido.
A tradição dos carros de bois em Trindade remonta ao século 19, e, desde 1989, tem lugar garantido na programação oficial da festa, com o tradicional Desfile dos Carros de Boi acontecendo sempre às quintas-feiras da Romaria. Para muitos romeiros, a viagem é mais do que promessa ou devoção, é um elo com a própria identidade cultural e religiosa.
O documentário é complementado pelo catálogo fotográfico “Carreiros, Vivências de Fé nas Estradas da Romaria”, que reúne registros do percurso, dos personagens e dos bastidores dessa manifestação popular que resiste ao tempo.
Mais do que um filme, “Carreiros” é um retrato poético e documental de um Goiás profundo, onde a fé ainda caminha sobre rodas de madeira, e o silêncio do campo é quebrado pela cantiga dos devotos e pelo chiar dos candeeiros acesos.



