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Caiado quer ser o Bukele brasileiro, mas nem sempre funciona como no marketing

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É impossível ignorar, Ronaldo Caiado (União Brasil) está cada vez mais incorporando o estilo Nayib Bukele. O governador de Goiás, que agora sonha com o Palácio do Planalto, construiu sua imagem nacional sustentada em três pilares que são cópias do modelo salvadorenho, discurso duro contra o crime, culto à autoridade e estética de ordem nas redes sociais.

E quando se fala que Caiado está construindo essa imagem inspirado em Bukele, é construção mesmo. Porque, apesar de ser um político muito antigo, com décadas de vida pública, as marcas que Caiado deixou até aqui são muito pequenas para uma eleição nacional. Goiás conhece, o Centro-Oeste conhece, mas o resto do Brasil, não. E ele sabe disso. Por isso, precisa urgentemente criar um personagem novo, uma nova pessoa, que fale para o Brasil inteiro, e ele escolheu fazer isso exatamente em cima do que Bukele está fazendo em El Salvador.

O Caiado de hoje não esconde que quer ser o Bukele brasileiro. O discurso é o mesmo, “bandido não tem vez”, “lugar de criminoso é na cadeia”, “o Estado não vai recuar”. E, de fato, Goiás viveu uma redução real dos índices de criminalidade nos últimos anos, o que ajuda a alimentar a narrativa do governador.

A estratégia do medo funciona, sim, mas não é perfeita

Só que a realidade, às vezes, é bem menos cinematográfica do que o marketing vende. Quando o criminoso Lázaro Barbosa aterrorizou o Distrito Federal e o entorno de Goiás, Caiado precisou de 15 dias, com mais de 270 policiais mobilizados, para capturá-lo. Foram dias de tensão, insegurança e cobrança, que mostraram na prática que o discurso de “tolerância zero” nem sempre é suficiente.

Se fosse em El Salvador, com a retórica de Bukele, a narrativa seria de que o governo esmagou o crime em poucas horas, pelo menos na propaganda oficial. Em Goiás, a operação contra Lázaro virou um divisor de águas. Expôs que o crime organizado, ou até mesmo o crime individual, não se combate só na fala dura, na postagem bonita ou na construção de uma imagem de xerife.

O efeito Bukele tem limite, e o Brasil não é El Salvador

Caiado surfa no desejo coletivo por ordem, segurança e autoridade. E não está errado do ponto de vista político, isso gera voto. Mas a comparação com Bukele também carrega um peso, se o goiano quer ser reconhecido como o presidente da ordem, ele também vai ser cobrado quando a ordem falhar.

Além disso, Goiás não é uma ilha. É um estado no meio de um país com fronteiras abertas ao tráfico, desigualdades imensas e sistemas jurídicos e institucionais muito mais complexos do que em El Salvador. Aqui, não se prende sem devido processo. Não se lota cadeias indiscriminadamente sem que o Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria atuem. O modelo de Bukele, se tentado no Brasil, esbarra numa série de barreiras legais, institucionais e culturais.

O marketing da ordem

Caiado entendeu que o discurso de “ordem e segurança” funciona. E, assim como Bukele, ele veste o figurino, fala em tom de autoridade, posta vídeos de operações, exalta ações policiais e mantém sempre a retórica de que, sob seu comando, bandido não tem vez.

Bukele, presidente do país mais seguro do mundo, segundo ele mesmo.

Funciona? Até certo ponto, sim. Os números da segurança pública em Goiás são positivos na redução de homicídios, roubos e sequestros. Mas o próprio episódio de Lázaro mostrou que segurança pública não é só narrativa, é operação, inteligência e, principalmente, gestão.

Conclusão, o Bukele brasileiro?

Ronaldo Caiado copia o modelo Bukele sim, no discurso, na estética e na construção da própria imagem. E não é força de expressão dizer que ele está construindo essa imagem. Mesmo sendo um político muito antigo, ele sabe que as marcas que deixou até aqui são pequenas, muito pequenas para quem quer disputar uma eleição presidencial. Por isso, está se reinventando, construindo agora uma nova pessoa, um novo personagem, que é exatamente o “xerife” inspirado no que Bukele faz em El Salvador.

O “efeito Bukele” por aqui funciona muito mais como uma estratégia de comunicação do que como uma realidade plena. A pergunta que fica é, o eleitor brasileiro, cansado da insegurança e da criminalidade, vai querer testar esse modelo na eleição de 2026? E, mais do que isso, será que Caiado está preparado para entregar na prática o que vende na teoria?

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