Roberto Naves governou Anápolis como quem detinha as melhores cartas. Era a “Mão Mais Forte”, o jogador com um Royal Flush no pôquer político da cidade. Sentado na cadeira de prefeito de uma das maiores cidades de Goiás, ostentava o título de gestor com promessas bilionárias. Mas a realidade, implacável, bateu à porta. E agora, as fichas na mesa são escassas. Hoje, o ex-prefeito não passa de uma “high card”, figurativa e sem valor de jogo, na prateleira política do Governo de Goiás.
Ao aceitar integrar o primeiro escalão do governador Ronaldo Caiado, Naves assumiu o comando da Goiás Turismo, uma pasta com orçamento pífio, distante do bilhão que tanto prometeu (e pouco entregou) em Anápolis. Em 2024, os investimentos da secretaria não chegaram nem a meio milhão de reais. Poucas fichas para quem já apostou alto no jogo político goiano.
Naves se contentou com um prêmio de consolação: um cargo sem brilho, sem autonomia e com um orçamento menor que o de algumas secretarias municipais que já estiveram sob seu comando. Um contraste que beira o cômico, mas que também é simbólico. O gestor dos bilhões agora se apega a migalhas. De figura central da política anapolina, virou coadjuvante em um governo que pouco ou nada espera dele, ainda mais com o prazo curto de dez meses antes que a legislação eleitoral o force a deixar o cargo caso deseje disputar as eleições de 2026.
Mas o buraco é mais fundo. Roberto carrega um fardo pesado: uma gestão mal avaliada, alianças rompidas, uma base política rachada e uma população que, em grande parte, virou-lhe as costas. De seu projeto de poder restaram apenas a esposa, deputada estadual Vivian Naves, e a ex-secretária Eerizânia Freitas, que não chegou sequer ao segundo turno da eleição municipal.
De dono do Royal Flush a carta quase fora do baralho, o declínio de Roberto Naves não se deve apenas aos movimentos da política, mas aos blefes mal calculados, à arrogância de quem se achava imbatível na mesa e à teimosia em continuar jogando mesmo depois de ter perdido a mão. A lição é clara para quem acredita que sempre terá as cartas vencedoras: no jogo do poder, a mesa vira. E, às vezes, o silêncio dos adversários é apenas a espera pelo momento certo de dar o xeque-mate.



